18 abril 2018

Importa falar de desigualdades?

Instituições como o FMI ou a OCDE defendem desde há muito tempo que as desigualdades excessivas implicam custos sociais elevados, impedem a mobilidade social e um crescimento sustentável no futuro. Acresce que altos níveis de desigualdade não só prejudicam os progressos visando a erradicação da pobreza, como também os esforços destinados a aumentar a inclusão e a coesão sociais.
 
Nos últimos anos, a Europa tem contudo vindo a tornar-se mais desigual, pese embora o facto de continuar a ser uma zona com níveis de desigualdade inferiores aos de outras parte do mundo (Ver texto na íntegra). No conjunto da Europa 28, o indicador global de desigualdade, o coeficiente de Gini, subiu de 30,6 para 31, entre 2005 e 2015. Por sua vez, a disparidade de rendimentos entre os 20% mais ricos e os 20% mais pobres, passou de 4,7 para 5,2, no mesmo período de tempo.

Particularmente decepcionante foi a evolução registada no número de pessoas em risco de pobreza e de exclusão social, que a estratégia Europa 20 pretendia reduzir em 20 milhões (de 115,9 milhões em 2008 para 95,9 milhões em 2020), sendo que em 2015 este número já era da ordem dos 117,6 milhões.

O eclodir da crise de 2008 teria contribuído para exacerbar o grau das desigualdades, parecendo difícil reverter a tendência observada. Sendo assim, há quem defenda que o regresso do interesse pelas questões relacionadas com a desigualdade foi desencadeado pela situação então vivida, a qual permitiu observar que enquanto alguns se viram desapossados dos seus empregos e das suas casas, com dificuldade em pagar as dívidas e com rendimentos decrescentes ou estagnados, houve outros que se saíram muito bem, nem que para tanto tivessem que recorrer aos paraísos fiscais. Há autores que apontam mesmo para a existência de uma ligação entre os sentimentos desencadeados pelo aumento das desigualdades e a ascensão dos movimentos populistas de extrema-direita na Europa. Muito embora as razões para explicar a importância crescente destes movimentos sejam múltiplas, e não se devam atribuir a um único factor, acredita-se que a desigualdade é um dos maiores desafios com que nos devemos defrontar no nosso tempo.

Impõe-se, por isso, que que se aprofundem os estudos sobre os factores geradores das desigualdades, designadamente, a globalização, a concentração do poder económico e financeiro, a revolução tecnológica e as alterações registadas no mercado de trabalho, bem como as suas ligações com a democracia, a igualdade de oportunidades, a salvaguarda dos direitos sociais e económicos e a erradicação da pobreza.

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